Enquanto os demais estudos procuravam explicações para as atrocidades sociais em outros ramos que não tinha ligação nenhuma com o social, como, por exemplo, os sociólogos italianos da escola de Pareto que pretendiam explicar o suicídio a partir das variações de temperatura, comparando as taxas de suicídio no Norte e no Sul da Itália, Durkheim só admitia “comparar e explicar um fato social por um outro fato social”[1]. Neste caso, o suicídio só pode ser explicado em função das influências da sociedade sobre os indivíduos.
Utilizando um termo próprio, Durkheim considera o fato social como “coisa” e define esta coisa como qualquer modo de ação que seja capaz de exercer um constrangimento externo sobre os indivíduos.
A ‘coisa social’ explicíta a separação da ciência natural da ciência social. A ação humana e a natureza passam a serem estudadas separadamente para explicar cada uma suas próprias adversidades.
A ordem social não faz parte da natureza, portanto não pode ser derivada das ‘leis da natureza’, pois esta ordem existe como produto da atividade humana. Embora nenhuma ordem existente pode ser derivada de dados biológicos, a necessidade da ordem social enquanto tal provém do equipamento biológico do homem. Embora os produtos sociais tenham seu caráter das atitudes humanas, a exteriorização enquanto tal é uma necessidade, “a inerente instabilidade do organismo humano obriga o homem a fornecer a si mesmo um ambiente estável para sua conduta”[2].
O fato natural só esteve presente no início, e ainda assim, incompleto, como causa de uma ordem social, e depois se retirou, deixando lugar para a ordem social pura como causa de si própria.
O social e o natural são coisas distintas e incomunicáveis, seus objetos de estudo são da mesma essência, no entanto, são intercambiáveis, só podendo-se explicá-las dentro de suas próprias e determinadas ordens.
Estudar cada caso de suicídio separadamente é um caso que não convém à sociologia, no entanto, estudar a soma de suicídios cometidos em determinado espaço de tempo por determinada sociedade constituiu no principal material de estudo e no encontro de uma explicação social da ”coisa”.
No caso do estudo do suicídio, a partir do Positivismo, em primeiro lugar, deve-se estudar a variação da ocorrência do suicídio no tempo e espaço; Em seguida, comparar os casos de suicídio encontrados em diferentes momentos da sociedade e em sociedades diferentes; E por fim, baseando-se nos dados obtidos, procurar uma explicação social para a ‘coisa’, no caso, o suicídio.
Primeiramente, Durkheim compara as taxas de mortalidade-suicídio com a taxa de mortalidade geral e depois essas taxas em outras sociedades e conclui que os suicídios são “num grau bem mais alto que as taxas de mortalidade pessoais a cada grupo social do qual elas podem ser vistas como um índice característico”[3]. Conclui-se, então, que as taxas de suicídio constituem, portanto, numa ordem de fatos único e determinado, é o que mostra, ao mesmo tempo, sua permanência e sua variabilidade. “Já que esta permanência seria inexplicável se ela não se devesse a um conjunto de caracteres distintos, que apesar da diversidade das circunstâncias ambientes se afirmam simultaneamente; e esta variabilidade testemunha a natureza individual e concreta destes mesmos caracteres, uma vez que variam como a própria individualidade social”[4].
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