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Sem Título #025

Ela já deveria ter se acostumado com isso. Afinal, sua vida sempre foi dessa forma, cheia de perdas. Sempre. Desde quando ainda era uma pequena criança.

Sua 1º experiência com perdas aconteceu aos 5 anos. Um walkman à pilhas que havia ganhado de sua avó. Ela costumava sentar dentro de caixas velhas com o fone no ouvido tocando qualquer canção tosca de alguma fita k7 de seus pais. Semanas depois, seu discman estragou sem motivo aparente e ela teve de se desfazer dele, com lágrimas aos olhos, pois ela adorava aquilo. Sentia-se num cantinho só dela dentro daquelas caixas.

Aos 6 anos, outra grande perda, seus pais já não estavam se dando mais tão bem como antes e sua mãe foi embora de casa, puxando ela e sua irmã, um ano mais nova, pelo seus bracinhos ossudos. Assim perdeu o seu pai, uma peça muito importante para o bom desenvolvimento de uma criança.

Por alguns anos as coisas correram bem. Bem demais para ser verdade.

Sua mãe, mulher bonita arrumou um namorado. Um cara legal. Um cara muito legal, mais legal que o seu próprio pai. (Ah, um adendo: demorou um bocado para que ela descobrisse isso, mas enfim...). Esse cara era tão legal que ela não mais sentia falta de seu pai, mas aí, ele se foi. Porque ela era a menina das perdas. Um infarto o levou para nunca mais voltar.

Quando virou adolescente, começou a gostar de coisas estranhas, influência de sua amizade com cabeludos-metaleiros-heavy-metal-from-hell-yeah! e pessoas do gênero. O cemitério era o lugar mais tranquilo desse mundo para a jovem perdedora, pois ali ela podia ficar sozinha e pensar na resposta para a vida, o universo e tudo mais. Sua mãe, quando descobriu os caminhos escuros pelos quais a sua primogênita andava quase morreu do coração, é claro. Não conseguindo corrigí-la, mandou-a para a casa de seu pai, agora casado e morando em outra cidade. Essa foi uma de suas maiores perdas. Foi-se mãe, irmã, conhecidos de infância e a resposta para a vida, o universo e tudo mais, que anos mais tarde ela viria a descobrir no google.

A nova cidade era legal, diferente de seu relacionamento com a nova família, pois este, não era lá grande coisa, e vinha ficando pior a cada dia.

Coisas como estudar na melhor escola da cidade, comer em restaurantes caros com certa frequencia e fazer algumas viagens ao longo do mês poderia ser algo que satisfaria muitos, mas não aquela garota, agora com 14 aninhos e muitas perdas pela frente. Ela foi se afastando de sua 'família' até não sobrar ninguém. A única pessoa com a qual ela conversava era um garoto que morava longe e sua psicóloga. De resto, seus relacionamentos se resumiam a 'oi' e 'até mais'.

O tempo passou rápido e quando ela completou 18, saiu de casa, abandonando as coisas, antes que as coisas a abandonasse. Uma amiga lhe apresentou uma mulher com a qual a pequena loser morou os 6 meses seguintes, até se 'casar'.

Hoje ela esta por ai, oculta entre os 41.384.000 rostos dessa São Paulo. Sua última perda entre tantas outras não citadas, foi o emprego que ela abandonou há quase 3 meses. Tudo o que lhe resta é o namorado e 2 felinos de estimação. Sua sanidade, postura e todo os resto se foram há tempos.

Torçam para que ela não perca também tudo o que ainda lhe resta.


3 Jogaram tudo pro alto:

Iguana Ambroziana disse...

Não perdendo a cabeça e nem o cabelo metarmofo multi-color ta bom .... ;)
E não perdendo meu endereço tbm !

Unknown disse...

poxa.. :) vc disse q minha animação Mariana era triste.. achei esse post mais.. : / mas..

"...e a resposta para a vida, o universo e tudo mais, que anos mais tarde ela viria a descobrir no google." > isso foi mto engraçado hsuahsuahsu.. apesar do resto não.. :|

teu blog é tri.. :) vim retribuir a visita e gostei.. vou voltar de tempos em tempos..

até! :D

Letícia Teixeira disse...

... você precisa de um animo, SÉRIO MESMO!

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