E eu os acompanhei a um funeral, não me lembro de quem era, mas todos choravam muito e, embora eu tentasse, todo o consolo era em vão. Fiz até umas gracinhas pra tentar distraí-los, mas pareciam não me ouvir.
Na volta pra casa, o carro silêncioso, ninguém falava nada, só se ouvia o barulho das rodas no asfalto molhado. Alguém buzinou atrás de nós, acho que estávamos em velocidade menor que a permitida. Ela sempre odiou quando buzinavam quando ela estava guiando, mas dessa vez não falou nada, e continuo da mesma maneira, enquanto engolia toda aquela dor com o auxílio das lágrimas que lhe escorriam dos olhos até a boca.
Em casa, nenhuma palavra. Só o tiquetaquear abafado do relógio de pêndulo que ganhamos do tio dela enchia nossa casa. Ele era um cara legal. Costumava dizer pra gente "viver bastante, viver em excesso, porque a vida era breve". A dele principalmente, morreu de câncer no estômago há 5 anos. Nos deu o relógio de presente no nosso aniversário de casamento, "pra percebermos como o tempo voa e quanto temos de nos apressar porque a vida não espera" - ele dizia.
Ela subiu as escadas se arrastando até o quarto. Eu não sei o que houve, não me lembro do que aconteceu, quem era aquele do funeral, mas sabia que ela precisava de mim, precisava de alguém que a consolasse e a abraçasse, e se não fosse eu, quem mais seria?
E eu fui. Ela estava sentada na poltrona, virada pra janela, com um retrato entre os dedo e com as lágrimas que pareciam nunca cessar, assim como a chuva lá fora que enchia o vidro de respingos.
O retrato era meu e naquele momento tudo fez sentido e descobri inclusive porque minhas tentativas de distraí-los eram em vão: eu estava morto e o funeral era meu.
2 Jogaram tudo pro alto:
Lindo, lindo texto. Só não me pareceu tão real por causa de "Anne" e "Albert".
Pronto, Sun! =)
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