Eu era amiga de uma moça bem gordinha e morena, bem morena.
Ela estava morrendo, uma doença que eu tive medo de perguntar, e pediu que eu fosse com ela à um presídio para que se despedisse de uns amigos, pois ela sabia que iria morrer em breve. E eu fui.
Estranhamente ela tinha a chave dos portões, que após entrarmos, trancou-os por dentro e jogou a chave no chão, num canto qualquer daquele corredor cheirando sangue e mofo.
A vontade era de sair correndo, de volta pra luz, pra qualquer lugar longe.
Ela foi na cela de seus conhecidos e eu a acompanhava, com um misto de nojo e medo, eu estava lá porque eu prometi que iria acompanhá-la, porque eu não podia negar nada à uma pessoa que ia morrer.
E a chave ali no canto.
Eu pensei na minha vida. Eu ali, com alguém que eu gostava muito, presa num lugar desagradável, escuro e cheio de vidas mortas. Mas as chaves estavam ali, só cabia a mim, abrir os portões e sair.
No meu sonho, eu não abri os portões.
No meu sonho, eu não sai.